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A luta contra a pobreza


Divulgação

A questão do pobre percorre a história humana. Pelo menos a história mais próxima de nós, isto é, desde o advento da agricultura, pois foi ela que possibilitou ou, conforme o ponto de vista, forçou o estabelecimento das pessoas em agrupamentos maiores – em vilas e cidades.

Dizia a filósofa Simone Weill: “Se você quer saber acerca de uma pessoa que crê em Deus, não olhe para o que ela diz sobre Deus. Olhe para o que ela diz sobre a pessoa humana”. Perguntemos, então, o que dizem as Escrituras sobre o pobre.

A linguagem bíblica prefere expressões concretas a expressões abstratas. Assim é que a Bíblia prefere o vocábulo pobre e não o conceito abstrato pobreza. Nos livros históricos, o pobre é visto como alguém que é infeliz. Diante dele, a atitude é de compaixão. Algumas leis do Levítico e do Deuteronômio lhe são favoráveis e o defendem. Já os livros proféticos – especialmente Isaías, Oseias e Amós – denunciam as violências, as injustiças e as rapinas dos poderosos, tomando a posição do pobre e defendendo-o contra o vexame e a exploração.

A mensagem evangélica gravita em torno de Cristo. Ele é pobre. A pobreza de Jesus, porém, não consiste em falta de bens. Ele tem uma casa, exerce uma profissão remunerada e, quando se torna um pregador ambulante, com seus discípulos recebe subvenção de pessoas amigas. Sua pobreza equivale à liberdade do coração, à disponibilidade diante da vontade do Pai até a morte na cruz e à aceitação consciente do sofrimento. São Paulo irá dizer que Cristo, de rico se fez pobre para enriquecer a muitos (cfr. 2Cor 8, 9).

 

Entre luzes e trevas, a Igreja, ao longo da história, tem tentado ser fiel à mensagem bíblica e evangélica.

 

Há cinquenta anos, a Igreja da América Latina e do Caribe se reuniu em Medellín-Colômbia, com a tarefa de refletir sobre a situação da Igreja no continente. O resultado foi a publicação do documento A Igreja na atual transformação da América Latina à luz do Concílio. Na primeira parte do citado documento, a triste constatação – vivemos num continente com enormes desigualdades econômicas e sociais. Num esforço de compreensão, o documento distingue entre pobreza real e pobreza espiritual. A pobreza real não é consequência de uma fatalidade. Não é um infortúnio. Não! É obra humana. Ela nunca é boa. Para superá-la, há de se buscarem as causas. E a pobreza espiritual? Ela é a primeira das bem-aventuranças. Ser pobre é colocar-se nas mãos de Deus. Essa pobreza nos leva à solidariedade com o pobre real. Em alguns casos, pode levar-nos à pobreza voluntária, a assumirmos a vida dos pobres reais.

Desde o ano passado, o papa Francisco declarou o penúltimo domingo do ano litúrgico como o Dia do Pobre. Conforme o papa, o mundo atual corre um sério risco de marginalizar os pobres, considerando-os simplesmente como um descarte e uma vergonha.

Fruto de muitas lutas e de muitos sofrimentos, as democracias modernas – também o Brasil – possuem uma legislação que defende os mais frágeis da sociedade. Assim é que alguns direitos são proclamados como devidos a todos – o direito ao trabalho, à saúde, à educação, à segurança, à previdência social – e leis foram criadas para defender esses direitos.

Lançando um olhar otimista sobre a história brasileira, podemos afirmar que o país já deu passos significativos na direção de uma sociedade melhor e mais justa. Como dizia meu pai, “quem diz que antigamente era melhor, é porque não viveu antigamente”. Essa caminhada, porém, precisa ter continuidade. Como dizia o anjo a Elias: “Tens ainda um longo caminho a percorrer” (1Rs 19, 7). Portanto, a luta contra a pobreza – no caso, a pobreza real, não a evangélica! – continua.

Feliz Natal, próspero Ano Novo!

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