Deus amou de tal modo o mundo que enviou o seu Filho não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por meio dele (cf. Jo 3,16-17). Tendo lavado os pés dos discípulos, Jesus lhes dá um novo mandamento: “Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisso conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns para com os outros” (Jo 13,34-35).
A Páscoa de Jesus Cristo é o mistério central de nossa fé porque, morrendo, ele destruiu a morte e ressuscitando, deu-nos nova vida. A salvação que Jesus nos traz atinge também toda a sociedade, porque Deus, em Cristo, não redime só a pessoa individual, mas também as relações sociais entre os seres humanos. O seu Reino de vida é incompatível com as situações desumanas existentes entre nós e nos convida a suprimir as graves desigualdades sociais e as enormes diferenças no acesso aos bens” (DI 4) (cf. DAp 359-358).
Em preparação à Páscoa de Jesus, a quaresma é oportunidade singular para aprofundarmos a vivência da fé em Jesus Cristo que implica a vivência do amor às pessoas, considerando também as realidades em que vivem. Em nossa cidade, município, estado e em nosso país, há problemas que são gritantes aos quais não podemos ficar indiferentes!
Desde 1964, a Igreja católica no Brasil realiza a Campanha da Fraternidade com tema e lema específicos para cada ano. Exemplos: a situação da população negra no Brasil em 1988, idosos, povos indígenas, água, Amazônia, defesa da vida, segurança pública, saúde pública, cuidar da casa comum (meio ambiente), superação da violência e outros.
Há celebrações e reflexões realizadas nas comunidades eclesiais, pastorais, movimentos, serviços, pequenos grupos, escolas e em outros ambientes. A campanha da fraternidade tem seu ponto forte durante a quaresma, mas se estende por todo o ano e é retomada através de atividades pastorais, assumindo gestos concretos, sinais de solidariedade.
Para este ano, mesmo com avanços já existentes, a proposta é refletirmos sobre situações que ainda trazem sofrimentos para grande parte da população e devem merecer maior atenção. Assim, desejamos fortalecer o processo de elaboração de políticas públicas. Como isso pode acontecer? Através de encontros com pessoas da comunidade, do bairro, com outros setores da sociedade local ou regional, sobre as situações mais urgentes; debatendo com o poder público, vendo suas causas, procurando saídas e encaminhando às autoridades competentes a fim de que haja melhorias significativas em vista do bem comum. É evidente que, nesse processo, surgirão dificuldades, pois pode haver algumas pessoas ou grupos que pensam que pessoas das comunidades e da sociedade civil organizada não precisam participar do processo mais amplo de reflexão e apresentar sugestões. Mas, a fé que nos ilumina e fortalece nos pede defender sempre os direitos dos que se encontram em situações desumanas que desrespeitam sua dignidade como filhos(as) de Deus e cidadãos.
Tratar desse tema como CF não atrapalha em nada a quaresma, ao contrário é uma forma de vivenciar a espiritualidade (caridade) quaresmal. Se o levarmos a sério, será uma grande oportunidade para que, questões tão relevantes, não fiquem reservadas aos gabinetes do poder legislativo, executivo ou judiciário. Poderemos assumir gestos que marcarão a vida da nossa rua, da comunidade, do bairro, do município, da região metropolitana e da área continental também.
A Páscoa de Jesus nos ilumine e nos fortaleça!