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O santinho de São Luís – um singelo necrológio



Por Michael Amorim

Professor de filosofia, conferencista, podcaster, catequista, acólito do Carmelo São José, além de pai e marido


Precisei interromper a série de quatro ensaios que estou escrevendo sobre literatura por um motivo mais que justo, esclareço. Escrevo estas linhas em 18 de Setembro, três dias após o dia em que o frei Rogério Beltrami, sacerdote capuchinho e uma das mais importantes figuras religiosas do Maranhão, passou deste Vale de Lágrimas para uma vida desfrutada ao lado da Santíssima Trindade com a Virgem Maria e com os Santos na eternidade.


Natural de Codigoro, Ferrara, na Itália, frei Rogério desembarcou no Brasil em 1953. Desde que aqui chegou, trabalhou ativamente como professor, auxiliando os estudantes de Parnaíba, por onde passaram outros nomes significativos para a história eclesiástica do Brasil, e da Ordem capuchinha: aí lecionaram Fr. Marcelino de Milão Jr., em seguida Bispo de Carolina, Fr. Valentim Lazzari, mais tarde Bispo de Grajaú; e foram alunos Fr. Timóteo Nemésio Cordeiro, mais tarde Bispo de Tianguá, Fr. Adalberto, mais tarde Bispo de Viana, Fr. Lourenço Nascimento, que ocupou a função de Bispo auxiliar de Fortaleza, Fr. Alcimar Caldas Magalhães, Bispo de Carolina e depois de Alto Solimões e muitos outros nomes ilustres.

Missionário ambulante, Frei Rogério pôde atuar em várias dioceses e acompanhar incontáveis visitas pastorais. Marcou ainda os estudantes de Guaramiranga e Fortaleza com a sua devota e convicta presença. Foi desbravador como pioneiro das Comunidades Eclesiais de Base (Ceb) na região do médio Mearim, aqui no Maranhão. Ainda foi pároco em Cidelândia e guardião da fraternidade de Imperatriz. Em Belém, colaborou na formação dos primeiros frades nativos da Vice-província, no Seminário Maior Nossa Senhora da Conceição. Terminando sua missão por lá, ocupou o cargo de Arquivista provincial no Convento do Carmo, em São Luís do Maranhão, onde permaneceu até a data de sua morte.

Reza a tradição que aos devotos da Virgem das Dores é concedida a graça de ser levado ao Céu no dia de sua memória litúrgica. No dia 15 de Setembro de 2020, justamente no dia de Nossa Senhora das Dores, frei Rogério, que lhe era um grande devoto, fez sua páscoa. Com a veneranda idade de 95 anos completos, dos quais 67 foram dedicados à Missão do Norte e Nordeste do Brasil.


Sacerdote dedicado, amigo leal, servo fiel da Igreja, Frei Rogério depositava empenho e entrega em tudo o que a Providência Divina o designava a fazer. Por esta razão, não há motivos para tristezas ao lembrarmos de sua partida. Nosso frei receberá no Céu a coroa da glória por sua vida de penitências e por toda luta que travou contra as hostes malignas, uma vez que era também exorcista – o único de São Luís.

Relatos de sua entrega total à evangelização existem aos montes. Ele, conhecido popularmente como "santinho" – e que muitos dizem ter tido a capacidade de ler as consciências, tal qual fazia São Padre Pio de Pietrelcina –, jamais hesitava em aconselhar e sempre estava disponível para confissão. Preocupado com o alívio e amparo das almas, recebia pessoas das mais diversas classes sociais e lhes dava, com a autoridade da Igreja, o perdão de seus pecados.

Há dois ou três anos antes de sua morte, lhe fiz, acompanhado do filósofo e caríssimo amigo Elvis Amsterdã, uma visita no convento do Carmo. Na ocasião surpreendi-me com sua lucidez. Apesar da idade, o velho frei pôde contar um pouco de sua trajetória como religioso e missionário, mostrar fotos, lembrar sua cuidadora de nos entregar os folhetinhos de orações e ainda nos dar a benção. Lembro bem de sua figura, já quase sem força física, mas imbuído de uma admirável força interior, beijando a minha imagem de São Bento depois de tê-la benzido; uma demonstração de imenso carinho e devoção pelos objetos religiosos, tão caros à fé católica.

Que possamos aprender com a passagem do Frei Rogério por esta terra. Ele, que já velho, doente e de cadeira de rodas, manteve a rotina de fazer adoração ao Santíssimo todos os dias, foi para todos os seguidores de Cristo um exemplo de vida cristã. Uma alma excepcional com a qual Deus, em sua infinita misericórdia, nos ensina, na prática, o cultivo das virtudes teologais da Fé, Esperança e Caridade.


Que Nossa Senhora do Carmo, Rainha e Formosura do Carmelo, São José, auxiliador na hora da morte, São Miguel Arcanjo, príncipe das milícias celestes e São Padre Pio de Pietrelcina roguem a Deus por nossas almas e cuidem bem do Frei Rogério, nosso santinho, no Reino da Glória.

Nos cum prole pia – benedicat Virgo Maria.

São Luís,18 de Setembro, dia de São Cupertino.







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