Dom José Belisário da Silva *
Queiramos ou não, carregamos dentro de nós o nosso passado. O passado pessoal, mas também o nosso passado social, nosso passado de povo. Quando os europeus chegaram por essas bandas, não encontraram uma terra vazia. Calcula-se que moravam na Ilha Upaon-Açu cerca dez mil indivíduos, pertencentes à nação Tupinambá. Conforme informações de frei Claude d’Abeville, a princípio, o encontro dos europeus com os povos da terra foi bastante cordial. Logo, porém, estes descobriram que a vinda desses homens do mar – barbudos, malcheirosos, amarelados, por isso por eles apelidados de papagaios amarelos – não era uma boa notícia. Doenças desconhecidas, maus tratos, guerras de extermínio resultaram em um verdadeiro genocídio.
Há um mito recorrente na história do Maranhão, aliás, na história de toda América, que é o mito da terra vazia. Dados objetivos desmentem esse mito, provando que é completamente falso. Quando os europeus aportaram às Américas, encontraram aqui muitas nações indígenas, sendo que algumas dessas nações possuíam culturas, como a dos astecas e dos incas, que tinham chegado a sofisticados padrões técnicos. Outros povos, porém, viviam conforme padrões mais simples, como era o caso dos povos que os franceses e portugueses encontraram na região do que viria a ser a Província do Grão Pará. Alguns eram nômades ou seminômades e viviam da caça, da pesca e da coleta de frutas que encontravam nas florestas.
Não é fácil desconstruir um mito. Essa narrativa de terra vazia serve, até hoje, para legitimar a ocupação de terras, consideradas sem dono e sem moradores. Foi o que aconteceu no início de nossa história e vem se repetindo ao longo dos séculos. Lembre-se, por exemplo, o slogan utilizado para justificar a construção da Transamazônica: “Uma terra sem homens para homens sem terra”.
Quando os europeus aportaram ás Américas, encontraram aqui muitas nações indígenas, sendo que algumas dessas nações possuíam culturas, como a dos astecas e dos incas, que tinham chegado a sofisticados padrões técnicos
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